“Frio”. Assim a delegada Dulcinéia Costa, da Delegacia Especial de Atendimento ao Adolescente (DEA), classificou o assassino confesso de Yasmin Lorena, de 12 anos. Marcondes Gomes da Silva, 45, matou a menina que ele viu crescer. O pedreiro morava colado à casa da vítima, e chegou a participar das correntes de orações pela volta daquela que ele já sabia que jamais retornaria à família.
Quando saiu de casa para pagar 30 reais que a mãe dela devia a uma vizinha, Yasmin viu o amigo Marcondes trabalhando em mais uma casa construída por ele na Rua José Acácio de Macêdo, na Redinha, zona norte de Natal. No imóvel de número 187-B, a menina sadia e querida pela comunidade entrou no dia 28 de março. A saída de lá só aconteceu em 24 de abril quando The Black, cão farejador da Polícia Militar, encontrou o cadáver enterrado e já em avançado estado de decomposição.
“Ela chegou e ficou conversando comigo. Falamos sobre Medicina, que ela queria estudar. Perguntei se ela queria namorar comigo, e ela disse que não. Peguei um fio de cabo de aço de bicicleta que estava no chão, depois cavei o buraco e enterrei”, contou Marcondes sobre como asfixiou a menina e ocultou o corpo. A ação durou, de acordo com ele, cerca de 20 minutos, nesse tempo teriam trocado alguns beijos, conforme relato do assassino.
Durante os dias em que Yasmin estava desaparecida, Marcondes continuava a esconder vestígios do crime enquanto, num gesto que comprova a frieza dele, participava das orações pela volta da menina e dos protestos que fechavam o trânsito na Ponte Newton Navarro. “Depois que enterrei o corpo vi uma sandália dela no chão. Aterrei perto da casa da frente. Depois de uns dias, desenterrei e joguei o chinelo lá no canal. Quando chove, as pessoas cavam para a água escorrer. Meu pensamento foi de alguém achar”, relatou.
No dia 24 de abril, a frieza do pedreiro foi posta novamente à prova. O homem diz que estava gripado. Pretendia ir ao médico de táxi, mas tinha apenas 12 reais, o que o levou a ir pedir dinheiro a um parente. “No meio do caminho vi a polícia na obra, e voltei pela outra rua. Fiquei numa obra de minha cunhada até tarde da noite. Escutei minha casa ser destruída. Depois peguei a direção da praia e saí caminhando”.
A caminhada a beira-mar durou dois dias. Ele foi capturado já próximo ao destino que queria chegar: Touros. Lá pediria para uma sobrinha conseguir um advogado para que ele se entregasse à polícia. Foi pego antes. “Eu estava cansado. Tinha uma ‘palhocinha’ e fiquei lá. Vi uma viatura de longe, mas não corri. O policial chegou e veio na minha direção. Ele disse: ‘Levante, que eu reconheci você’. Falei: ‘Tá certo’”.
Um sociopata
Para a delegada geral da Polícia Civil, Adriana Shirley, Marcondes da Silva tem traços de quem não consegue ter responsabilidade pelos próprios atos. “Ele se mostra ser um sociopata. Atribui culpa a outra pessoa e, depois de ser confrontado e ver que não há outra saída, volta atrás do que disse”, declarou.
Nessa quinta-feira, 26, quando depôs à Polícia Civil, Marcondes chegou a dizer que tinha um caso extraconjugal com a mãe de Yasmin e que a própria mulher teria participado do crime. Depois de ser confrontado, negou tudo. “Disse que por já estar comprometido iria comprometer ela também”, explicou a delegada Dulcinéia Costa, que elucidou o caso.
Logo que foi pego pela Polícia Militar, ele também negou o crime. Depois de ser bastante interrogado fez a confissão: “Fiz tudo sozinho, não quero incriminar ninguém. Fiz sozinho”.
Um pedófilo
Yasmin não foi a primeira menor a ser vítima do pedreiro Marcondes da Silva. Durante as investigações foi descoberto que o homem abusou de outra jovem “há muito tempo atrás”, de acordo com a delegada Dulcinéia Costa.
“Havia um histórico de abuso, e ele confirmou a acusação do passado. A menina tinha, aproximadamente, a idade de Yasmin. Ele teria tocado o seio dela. Não foi investigado porque não chegou ao conhecimento da polícia na época”, relatou.
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