Na semana passadsa consumou-se ato político-administrativo do maior significado para a democracia brasileira. Adversários políticos, o presidente Luiz Inácio da Silva e o governador paulista Tarcísio de Freitas assinaram acordo de cooperação para a construção de um túnel abrangendo as cidades de Santos e Guarujá, no litoral paulista.
Planejado há quase 100 anos, o túnel imerso, interligando as cidades de Santos e Guarujá, sairá finalmente do papel. A obra visa melhorar o fluxo de pedestres, cargas e automóveis que transitam entre as duas cidades do litoral, com reflexos em pelo menos nove municípios da Baixada Santista. É uma tentativa de resolver histórico gargalo de mobilidade, impactando a vida de dois milhões de pessoas.
Inicialmente, Lula se opunha à participação na obra do Governo de SP. Defendia PPP com o setor privado. Mudou de ideia, considerando esse sonho vem de 1922, conforme registro de um jornal paulista. O incrível são as críticas despropositadas de militantes da extrema direita contra o diálogo administrativo do governador Tarcísio de Freitas com o presidente Lula. O governador chegou a ser vaiado por bolsonaristas, na reunião em Santos.
Aliados radicais de Bolsonaro alegam falta de lealdade de Tarcísio e desconhecem que se trata de projeto importante para o estado. Na história são comuns os acordos e conversas entre adversários políticos, diante de situações exigidas pelo interesse coletivo. Para não irmos muito longe, um exemplo é do próprio presidente Bolsonaro. O general Augusto Heleno, seu amigo e auxiliar, chamou de “ladrões” os políticos que integravam o centrão. Cantarolou a música clássica de Bezerra da Silva: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”.
Pois bem. Na condição de presidente, Bolsonaro fez aliança com o “centrão” e começou indagando aos seus correligionários: “Pessoal critica: ‘ah tá conversando com o Centrão’, quer o quê? Que eu converse com o PSOL? Com o PCdoB? ”. Foi mais adiante: “O cara quer tocar fogo na canoa, mas não tem um toco de bananeira do lado dele. Vai atravessar o rio cheio de piranha nadando, vai morrer e ser comido no meio do caminho”.
Em 1946, na campanha para governador de SP, juntaram-se os inimigos Getúlio Vargas e o secretário-geral do Partido Comunista do Brasil, Luís Carlos Prestes. Na ditadura de Vargas, Prestes havia ficado preso por nove anos e vira sua esposa, Olga Benário, ser entregue, grávida, à Alemanha nazista. A Frente Ampla foi uma tentativa de enfrentar a ditadura militar e de abertura democrática, que uniu Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek (JK) e João Goulart (Jango), em 1966.
No caso do presidente Lula e o governador Tarcísio de Freitas não é união política, mas a soma de esforços, em benefício do interesse público. Merece aplausos e apoio de quem tenha bom senso.
De Ney Lopes
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