Foto: Reprodução/Instagram
No processo de construção das práticas pastorais é cada vez mais premente que assumamos o imperativo de termos método pastoral. Aliás, a evangelização sem um objeto, uma sistematização, um desenvolvimento, monitoramento e avaliações constantes, não é uma ação pastoral, enquanto agir orgânico e contínuo da Igreja. Mesmo que partamos do paradigma das ações de Jesus de Nazaré, o Bom Pastor (cf. Jo 10). Mas, sempre atentos ao todo do projeto missionário e pastoral de Jesus Cristo, aquele que é o Senhor, devemos voltar as mentes e os corações ao seu agir, considerando todos os evangelhos. O nosso estilo pastoral, enquanto Igreja, precisa ter na metodologia jesuânica o seu modelo. Podemos dizer que o rosto pastoral das ações eclesiais, se não for moldado ao jeito próprio de Jesus, não será protagonizado pelo Espírito Santo, o Defensor (cf. Jo 16,7). Nesse sentido, a proposta que nos é apresentada pelo Papa Francisco sobre a sinodalidade, com seus elementos constitutivos, é o modo de operar que foi revolucionário na história do cristianismo, a começar pelas primeiras comunidades (cf. O livro dos Atos dos Apóstolos). A leitura desta obra tem muito a nos dizer sobre a metodologia pastoral.
No contemporâneo, a Igreja tem no Concílio Vaticano II os referenciais teológicos – eclesiológicos – para orientar a sua práxis pastoral. Estudemos, internalizemos, aprofundemos a sua mensagem, com o coração aberto a uma “justa hermenêutica”. A denúncia profética feita sobre o ‘clericalismo’ é um modo de dizer que o Concílio ainda não foi assumido por muitas Igrejas Locais de toda a catolicidade, especialmente, por muitos de nós, que somos ministros ordenados. Ela, a Igreja, não é constituída por um projeto de governo democrático. O seu programa não é político. Menos ainda, a mesma não é uma ONG. Na Igreja existe uma ‘sucessão apostólica’. Nela, a constituição hierárquica faz com que estejamos com Pedro e sob Pedro – cum Petro e sub Petrum – juntamente com os demais Bispos, que estão em comunhão com ele, formando assim o colegiado universal da sucessão apostólica. Quando na Igreja há quem não aceite essa comunhão com o Sucessor de Pedro e nega essa prerrogativa da catolicidade, torna-se um ‘cismático’. Esse adendo é necessário para pensarmos a metodologia pastoral numa perspectiva relacional, não autônoma, nem totalitária, mas a partir da experiência de uma cultura do encontro e da corresponsabilidade.
Como nossa intenção é a reflexão sobre a metodologia pastoral, e não doutrinal, mesmo chamando à atenção para a não desvincularmos a doutrina da pastoral; já que devemos ter presente que o Papa é o sinal visível da unidade de toda a catolicidade, como os bispos são os pastores próprios das Igrejas Particulares, a questão para a qual venho chamar à atenção é o que está fomentado, justamente no sínodo sobre a sinodalidade, sobre a importância da ‘escuta’ nas nossas ações pastorais. Os nossos planos e atividades eclesiais necessitam assumir, com muita humildade e espírito de fé no sendo dos fiéis – sensum fidelium – a capacidade de ouvir o que o povo fiel de Deus tem a dizer aos demais irmãos que têm a missão de ‘servir’ a este mesmo povo, que deseja chegar à salvação (cf. LG cap. III, 18). A nossa prática tem que entender o que isso significa para as nossas atividades pastorais. A nossa Igreja Particular de Natal terá uma oportunidade de maturar o que está ousadamente proposto pelo Papa Francisco. Teremos o forte apelo a nos convertermos pastoralmente com o sínodo arquidiocesano que estamos para desenvolver.
O sínodo sobre a sinodalidade nos oferece não só uma teologia sobre o que é a Igreja, enquanto comunhão, participação e missão. Este acontecimento também nos mostrará que a nossa metodologia pastoral, neste terceiro milênio, tem que ser ressignificada, reordenada e convertida, tendo em vista a transformação missionária de toda a Igreja, a começar pelas suas ‘estruturas curiais’ (cf. PP Fco. EG cap. I; PE cap. II). Esses princípios missionários e organizacionais precisam ser recepcionados pelas Igrejas diocesanas. Isso será um ponto de partida central nas proposições a serem apresentadas pelo nosso sínodo local. Como a metodologia pastoral tem a ver com processo, o nosso discernimento eclesial poderá nos sensibilizar para assumirmos com coragem e determinação o anseio por reformas, que tem na nossa busca pela nossa santificação o nosso maior esteio, mas também numa administração que seja pautada pela virtude da justiça, que qualifica a política, inclusive a eclesiástica, para promoção do bem comum.
Sendo assim, as minhas inquietações devem ser situadas no que em comunhão com toda a Igreja estamos vivendo. A nossa pastoral não pode ser só ‘eventual’. Neste sentido, o nosso sínodo não deverá ser colocado em segundo plano para o que queremos testemunhar enquanto Igreja; mas, ele deve ser o carro chefe para que aprofundemos as nossas práticas pastorais com uma teologia arraigada no Concílio Vaticano II e este que, por sua vez, está em continuidade com a tradição viva da Igreja. Temos que fugir da superficialidade da ‘sociedade do espetáculo’. O movimento pastoral da nossa Arquidiocese precisa proporcionar consistência ao sínodo para que tenhamos mais qualidade metodológica nas nossas ações pastorais, tanto internamente, quanto no nosso diálogo com a cultura pós-moderna. Ou temos essa preocupação em nossas estruturas pessoais e físicas, ou continuaremos com a pastoral de conservação. Façamos a diferença no hoje da história. Assim o seja!
Por padre Matias Soares / Pároco da Paróquia de Santo Afonso M. de Ligório – Natal
Comentários
Postar um comentário